sexta-feira, 27 de julho de 2007

Briga de Foice (Capítulos 4, 5 e 6)

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Daniel trabalhava como segurança num lugar chamado Local. Por duas vezes Daniel chegou a trabalhar como juiz das lutas. A regra era simples: não se usava nenhuma arma no combate, vencedor era somente o sobrevivente. Dois homens brigando até a morte. Um ringue humano. Os lutadores era recrutados entre os bandidos, drogados; marginais. Fugidos da justiça. Maciel pagava bem por luta, dinheiro que esses malditos nunca ganhariam na vida. Bastava ficar vivo, isso era tudo. As apostas pagavam todas as contas, Maciel conseguia ainda um bom lucro com o negócio. É claro que vendia também bebidas roubadas, drogas e muita prostituição. Daniel mais dez sujeitos, incluindo Camargo, trabalhavam naquele lugar cuidando da ordem e inibindo os arruaceiros.
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Num dia Toninho resolveu arrumar confusão. Toninho era filho do Maciel, e raramente ia até o Local. Toninho agarrou uma menina que estava acompanhando um sujeito. O sujeito era o deputado Paes. Paes não gostou, perdeu a cabeça; quis brigar com Toninho. Daniel estava perto da discussão, mas resolveu não fazer nada até que eles começassem a brigar. Toninho estava armado, de repente ele puxa a arma da cintura. Daniel voa em direção ao Toninho. Um disparo no chão. Paes sai correndo em direção de Toninho, Daniel acerta-lhe um soco no meio da cara. O deputado cai sangrando. Toninho vai em direção ao deputado, Daniel novamente com um certeiro de direita quebra o nariz de Toninho. Naquele momento Daniel não sabia com quem estava brigando. A garota tenta socorrer o deputado, nocautiado no chão. Seguranças pegam Toninho pelo braço.
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Nesse momento Camargo e Alvarenga, que trabalhavam também como segurança, pegam Daniel e tiram ele do Local. Entram num carro e saem em disparada. Maciel fica sabendo que bateram em seu filho. Camargo liga para o médico particular, depois tenta falar com Fernando, tenta explicar o que havia acontecido. Camargo, Daniel e Alvarenga se escondem num boteco ali perto. Camargo conversa com Alvarenga, Daniel entra no banheiro.
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“Sim, Daniel bateu na cara do Toninho” – Camargo.
“Maciel vai ficar doído” – Alvarenga.
“Daniel não deve saber quem é o cara que apanhou”
“Quem é o outro sujeito?”
“Deputado Paes”
“Vai dar merda!”
“Liga para saber como eles estão”
“Já falei com Fernando. Chamaram o médico para o Toninho. Paes está acordado”
“Precisa quebrar o ganho do Daniel”
“Vou tentar. Mas se falar alguma coisa agora.... sabe como é o Maciel”
“Alvarenga, eu confio em você”
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Daniel sai do banheiro. Está visivelmente nervoso. Sabia que sua situação estava complicada. Bateu no cara errado, Alvarenga alerta. Estão confinados numa pequena saleta de um bar, onde se costumava esconder produtos roubados e outros foragidos da polícia. Por sorte estava vazio, poderiam ficar ali em segurança. Nem mesmo Maciel sabia da existência daquele esconderijo. Alvarenga pega o carro, precisa voltar antes que Maciel perceba sua ausência. Alvarenga era homem de confiança de Maciel. Ele chega no Local. Pessoas estão indo embora, Maciel está nervoso na sala.
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“Onde você estava?”
“Precisei levar uma das meninas embora”
“Não consegue ficar longe de mulher?”
“É a namorada do seu filho”
“Senta aí”
“O quê houve?”
“Conhece o Daniel?”
“Sei”
“Aquele filho da puta bateu no meu filho”
“O que você quer?”
“Que mate aquele desgraçado”
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5
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Fernando entra na sala. Alvarenga está atrás da cadeira de Maciel. Fernando fica surpreso com a cena, apesar de não ser nenhum segredo que os dois tinham um caso. Fernando senta bem de frente com Maciel, Alvarenga sai de perto de Maciel e vai pegar um copo de bebida para o chefe. Maciel acende o charuto, quem conhece o velho sabe que essa hora é sagrada. Ele precisa dar uma baforada, beber um gole de uísque; depois podiam tratar de qualquer assunto, importante ou não. Fernando ajeita a gravata. Maciel se levanta da cadeira, pergunta calmamente o que estava acontecendo. Fernando responde:
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“Toninho quis matar o Paes”
“Que merda deu na cabeça do meu filho?”
“Parece que ele gostou da acompanhante de Paes”
“Tanta mulher nesse mundo. Já disse para ele não mexer com nossas garotas”
“Não era nossa. Era esposa de Paes”
“Que corno para trazer a esposa para um lugar desses?”
“Paes quis brigar com Toninho”
“Sei. É motivo para Daniel fazer aquilo?”
“Toninho puxou a arma, quase acerta o deputado. Daniel pegou a arma do Toninho. Paes quis bater em Toninho, Daniel deu um soco no deputado”
“Caralho! Ele bateu no Toninho ou no deputado?!
“Nos dois. Acabou com a briga, como é sua função”
“Está defendendo aquele sujeito?”
“Só estou dizendo o que aconteceu”
“Ele é seu amigo, não é?”
“Não. Ele é apenas de minha confiança”
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Fernando sai da sala. Alvarenga volta na mesma posição que estava quando Fernando entrou, ou seja, acariciando Maciel. Maciel pergunta se Alvarenga trancou a porta, não queria novamente ser incomodado. Alvarenga afirma que sim. Começam a trocar beijos. Na outra sala Fernando fica quieto, pensativo. Sabia que não poderia fazer nada para ajudar Daniel. Ele liga para Camargo, os dois ainda estão escondidos no bar, bebendo.
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“Melhor Daniel tomar cuidado”
“Como foi?”
“Maciel não quer conversa, disse que quer matar Daniel. Por enquanto Alvarenga consegue segurar a fera. Pode ser que amanhã ele mude de idéia”
“Aquele bicha velha!”
“Alvarenga disse para mim que não vai fazer o serviço agora, mas não sabe até quando poderá desculpar-se com o velho. Disse que vai tentar convencê-lo a mudar os planos, esquecer o assunto”
“Alvarenga vai conseguir um tempo para Daniel, tenho certeza”
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Camargo enche o copo com mais bebida. Sabia que a situação estava complicada para Daniel. Daniel está bêbado, sabe que fez uma enorme burrada. Não tinha como prever os acontecimentos, afinal era bem pago para manter a ordem. Eles bebem, Daniel resolve ir embora. Era inútil Camargo ficar com ele, mesmo assim tenta segurá-lo por mais algumas horas. Daniel diz para Camargo que Cecília está sozinha. Daniel vai embora andando.
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No outro dia Cecília sai para trabalhar. Daniel resolve ligar para Fernando, saber como estava sua situação. Não poderia perder o emprego, ainda tinha esperança de continuar trabalhando no Local. Fernando recebe Daniel, diz que foi demitido, e por enquanto Maciel havia esquecido o assunto da briga. Fernando entrega o pacote com o pagamento, Daniel pega o pacote mas não confere o valor. Sai reclamando de tudo que andou fazendo nos últimos dias. Fernando apenas sorri, descontente. Daniel chega em casa. Cecília não estava. Toca o telefone. Ele não queria falar com ninguém. O telefone continua. É Camargo marcando um encontro.
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Daniel conversa com Camargo pelo telefone. Por enquanto ele estava em segurança, Maciel tinha sido domando por Alvarenga. Daniel fica mais tranqüilo, não precisava mais se esconder a todo instante. Desliga o telefone depois de combinarem data e local para se encontrarem. Pega o pacote de dinheiro, coloca na mesa. Espalha as notas. Começa a contagem. Mil e duzentos! Conta mais uma vez, era possível que tivesse se enganado. Mais uma vez, mil e duzentos. Separa as notas por valores, conta novamente. Foi roubado em oitocentos. Considerando o desconto para a plástica do Toninho, mais quinhentos. Mil e trezentos! Foi roubado em mil e trezentos! Conta mais uma vez, precisa ter certeza que não está errado. Entra em desespero.
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Liga na mesma hora para Fernando. Diz que o valor pago por Maciel está errado. Tinha no envelope somente mil e duzentos. Fernando não sabe o que dizer para Daniel, é certo que não poderia ajudar em nada.
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“Sabe que não estou mentindo? Tem mil e duzentos apenas!”
“Eu sei que você não está mentindo”
“Então?”
“Não posso fazer nada. Depois da briga, Maciel ficou ferrado comigo”
“Mas está faltando dinheiro!”
“Já me disse”
“Ele está me roubando mil e trezentos!”
“Não é roubo, quinhentos para a plástica de Toninho”
“E os oitocentos? Que merda é essa?!”
“Eu já me ferrei por causa de você. Deve me agradecer por ele não estar te caçando”
“Quer dizer que não vai fazer nada?!”
“Ponha uma coisa na cabeça: está ótimo para você poder continuar vivo”
“Ele me roubou”
“Ora, queria esperar alguma coisa melhor de um bandido? Maciel é um grande filho de uma puta!”
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Daniel percebeu desnecessária qualquer briga com Fernando, estava certo; ele havia livrado sua cara de coisa pior. Devia favores para Alvarenga também, para Camargo. Desligou o telefone na cara do amigo, depois se arrependeu, era tarde. Colocou o dinheiro novamente no pacote, escondeu dentro do guarda-roupa. Cecília estava para chegar, era nove horas. Cecília chega, põe a bolsa no sofá; abraça Daniel. Os dois caem no chão.
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“Que foi? Não gostou da surpresa?”
“Não estou num bom dia”
“O assunto de ontem, né?”
“O assunto de ontem quase me fudeu”
“Posso ajudá-lo em alguma coisa?”
“Sabe que não quero envolver você nos meus negócios”
“Sei. Sempre me diz isso”
“Preciso de um banho”
“Quer que eu esfregue suas costas?”
“Quero que vá embora”
“Amanhã eu volto para minha casa, não se preocupe”
“É perigoso ficar aqui”
“.....”
“Dessa vez é sério”
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Cecília tira a roupa branca de enfermeira, ela sempre diz que é perigoso vir hospital para dentro de casa e não tirar a roupa. Ela entra na banheira primeiro, Daniel logo em seguida. Os dois se beijam, Daniel está com uma cara cansada. Cecília lava as pernas, depois os seios; só depois esfrega as costas de Daniel. Os dois transam. Vão para a cama, dormem. Aquela noite ainda estava fria.
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(Continua....)


3 comentários:

Neisa Fontes disse...

Veja bem, fiquei relutando entre ser simpática e honesta. Aí, me lembrei que nunca fui simpática e, pra não quebrar uma tradição de 32 anos, vou ser honesta:
a história está interessante, mas esse lado "Pulp fiction" tá meio enrolado... O estilo é legal, mas você sabe fazer isso ficar melhor. Eu sei que sabe!

Neisa Fontes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sérgio Oliveira disse...

Pulp Fiction é um ótimo filme, mas ninguém entende nada. Será que ninguém está "sacando" minha história?