terça-feira, 21 de agosto de 2007

Briga de Foice (19,20 e 21)

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19
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Delegado Freitas consegue oito viaturas. Foi difícil arrumar tanta gente para um flagrante que botaria muitos poderosos na cadeia. Um amigo de Freitas, que estudo com ele Direito, disse que Freitas estava ficando maluco com a operação, que era preciso mais do que coragem para acabar com uma quadrilha daquelas, era preciso inteligência. “Não é melhor estudar os frequentadores do lugar, primeiro?!”. Freitas não queria saber quem estaria apostando, lutando ou apenas assistindo as lutas. Queria pegar todo mundo, ilegalidade serve para todos, afirmava. Lutas com apostas, homens brigando até a morte!
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Dois policiais se encarregam de entrar no Local. Sondar a disposição do público, do ringue, saber quem trabalhava, quem mandava e tudo mais. Freitas tinha quase certa a apresentação que Marinho tinha feito na delegacia, entregando tudo. Marinho não era louco de mentir para Freitas. Compram os ingressos, recebem uma cartela onde poderiam fazer as apostas, recebem também um folder com informações dos lutadores da noite e das mulheres disponíveis. No papel uma enorme foto de Touro, com dizeres “maior lutador de todos os tempos”. Touro parecia um sujeito conhecido, diz um dos policiais. Eles saem, encontram-se com Freitas. Relatam tudo que viram.
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Era preciso de mais policiais. Ao todo umas quinhentas pessoas assistiam a luta, pelo menos era o número aproximado considerando aquilo que estava no ingresso adquirido por eles: 497 e 498. Na fila mais umas dez pessoas esperavam pela oportunidade de entrar e poder assistir a luta.
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“Filho da puta de Marinho! Disse que eram umas cem pessoas!”
“Aqui diz que a luta do Touro tem chamado atenção dos apostadores!”
“Deixa eu ver essa merda!” – Freitas pega o papel da mão de um dos policiais – “E os cabeças?”
“Não vimos nenhum deles”
“Viu alguma escada, porta; qualquer coisa?”
“Acima de uma das arquibancadas parece ter vários camarotes”
“Pode ser o escritório que Marinho falou”
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Delegado Freitas liga para a delegacia, pede ajuda de mais policiais de outros distritos, não é atendido em sua solicitação. Era sábado, muitas ocorrências menores tiravam policiais de assuntos importantes como aquele que Freitas estava enfrentando. Briga de casal, de vizinhos e roubo de carros. Pensou em recuar, voltar com mais armas e policiais num outro dia. Seria difícil enfrentar os capangas, prender todos os envolvidos.
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Se voltasse outro dia, talvez Maciel tivesse fugido, desmontado toda a organização. Nesse momento deve saber da prisão de Marinho, e das conseqüências que isso poderia causar para o Local caso o assunto caísse na mão do delegado Freitas. Toninho esvaziaria o galpão antes que fossem pegos. A lentidão da justiça e a incapacidade dos policiais criam os ladrões. Estava decidido, delegado Freitas enfrentaria tudo aquilo com coragem. Os outros policiais se motivaram com a presença segura do delegado. Maciel fica sabendo da prisão de Marinho, chama por Camargo. Queria cobrar-lhe o serviço pago, Camargo deveria matar Marinho antes que ele fosse pego pela polícia.
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Camargo recebe o recado de Maciel. É hora do plano ser executado. Camargo inventa uma desculpa qualquer, não vai ao encontro com Maciel. Camilo segue para o cofre, já tinha inventado a história de que o dinheiro estava em perigo, precisavam tirá-lo dali antes que Toninho roubasse. Os seguranças confiavam mais em Camilo do que em Toninho, seguiram com o ex-chefe. Diane, Soraia e Camargo ficaram de prontidão esperando a ordem de Camilo para fugirem com o dinheiro.
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No escritório, Alvarenga diz para Toninho que Daniel está amarrado e com seguranças dentro de um furgão; se quisesse acertar contas com o desafeto teria que ser naquela hora. Toninho sai com Alvarenga, os outros seguranças percebem a movimentação de Toninho, isso confirma o que Camilo havia espalhado, Toninho estava armando um plano para roubar o dinheiro. Toninho é seguido por seguranças confiáveis de Maciel, eles logo informam que Toninho está fugindo do Local. Dizem que foi visto perto de um furgão. Maciel não acredita que o filho está roubando o dinheiro, mesmo assim corre para o lugar indicado pelos capangas.
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20
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Camilo consegue chegar no cofre, sabe que o dinheiro está ali, mesmo assim diz estar surpreso pelo golpe de Toninho não ter dado certo. Todos confiam em Camilo, sabem que o dinheiro estava agora em segurança. Camargo e os outros chegam ao local onde estava o dinheiro, conseguem dominar os seguranças. Começam a transferir todo dinheiro para uma outra sala, em sacos de lixo. Murilo também tinha conseguido entrar, ajudou a empacotar o dinheiro e a carregar tudo para a sala indicada por Camilo.
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Lá fora Toninho encontra Daniel. Ao contrário do que havia informado Alvarenga, Daniel não estava amarrado. Toninho se aproxima, puxa uma arma, antes de atirar é dominado por Alvarenga, que diz que as regras são claras naquele lugar: proibido usar qualquer tipo de arma. Toninho chama os seguranças, eles também são dominados por homens contratados por Alvarenga. Gisele está perto, mas não sabe como ajudar o noivo. A briga era entre Daniel e Toninho, nenhuma outra interferência.
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Nesse momento chega Maciel, ele não sabe o que está acontecendo. Queria averiguar o roubo que diziam que Toninho estava cometendo. Viu os dois discutindo no meio de um grupo de pessoas, não estavam brigando ainda. Olha para o furgão, não vê nenhum dinheiro. Diz para alguns seguranças correrem para o cofre, saber se está tudo bem. Tenta interferir na briga que estava prestes a começar entre Daniel e Toninho, mas logo é dominado. Os seguranças chegam no cofre, ele está vazio. Eles correm para o escritório, Camilo está com Soraia, os dois estão transando no sofá de couro. Os seguranças correm e avisam Maciel que o dinheiro foi roubado.
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Delegado Freitas sabia que não podia cometer erros. Era importante pegar os cabeças, não estava preocupado em mandar todos os contraventores para cadeia, mas os maiores. Estão esperando o momento certo para entrarem. De repente uma movimentação que parecia banal, um grupo de pessoas em volta de um carro. De longe ele consegue ver Maciel. Não imagina o que está acontecendo. Nem passa por sua cabeça que um dos filhos de Maciel estava prestes a brigar com um ex-funcionário. Alvarenga também estava sendo investigado, Daniel ele sabia que era um ex-policial expulso da polícia. Não tinha certeza dos motivos que levaram a expulsão.
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Ele prefere esperar mais alguns minutos, não era hora de entrar em ação. Uma briga entre dois bandidos, podia ser perigoso para seus policiais entrarem numa confusão daqueles. Dá ordem para os policiais recuarem, mais uma vez pelo rádio pede socorro.
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Águia Chilena entra no ringue. Era o primeiro que lutaria com Touro. Um sujeito baixo, magro; mas um tanto bravo. Era o pior lutador daquela noite. Posto exatamente para ser trucidado por Touro. Isso faria os valores das apostas aumentarem na segunda luta. Foi apresentado, alguns vaiam, outros aplaudem. De repente entra em cena o grande campeão: Touro. O barulho das pessoas podia ser ouvido do lado de fora do galpão. Um dos homens de Freitas diz que o show começaria. Freitas não sorri com a piada, está apreensivo com a situação. Os dois começam a luta, pouco mais de vinte minutos para Touro acabar com Águia. Mais dez minutos para começarem as outras apostas. O resto de Águia é retirado do ringue com um carrinho de mão.
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Camargo sabe que há muito dinheiro empacotado. Apesar do valor alto, não foram muitos sacos que transferiram para outra sala secreta. Murilo manobra o carro de forma que o dinheiro pudesse ser carregado mais rápido possível. Era comum abrirem outra sala para novas apostas. Outra sala, outro cofre, outras senhas. Camilo é chamado com urgência, já que Maciel e Toninho não foram encontrados pelos administradores do Local. Geralmente eles quem decidiam as senhas e em quais salas seriam colocados as notas. Camilo faz a parte burocrática, outra sala é aberta para novos valores de apostas.
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Camargo, Daiane, Murilo e Soraia carregam o roubo para o carro. Na verdade um carro-forte, usado pelo próprio Maciel para carregar os valores das apostas para uma Mansão na zona Sul. Dessa vez o rumo seria outro. Parte do plano estava consumado, tudo estava acontecendo da melhor forma possível.
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21
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Cecília levanta apressada, decidiu ir com Daniel, não importa mais quem ele é. Disse a verdade, isso é o que estava valendo. Uma e meia da manhã, ela prepara sua mala. Chama um táxi. Despede-se da mãe, mas jura que voltará em breve para levá-la para um lugar onde possam morar sem aquele barulho de cidade grande. A mãe está dormindo, não consegue compreender o que a filha está dizendo; vai perceber tudo somente de manhã, quando vê o quarto vazio e os armários sem roupas. Cecília vai ficar por uns dias numa cidade do Rio Grande do Sul, onde Daniel prometeu resgatá-la.
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Do outro lado da cidade Luiza tenta convencer Henrique sobre o pagamento que Daniel havia proposto. Era o dia de vencimento. Luiza se arrisca muito com Henrique, mesmo assim continua brigando por Daniel. Ela diz que o dinheiro vai estar num local combinado com Daniel no Domingo, que podem ir juntos para Campinas e verificar se a promessa foi cumprida. Henrique não esperaria tanto pelo dinheiro caso não fosse um pedido de Luiza. Vão para Campinas no domingo.
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Um ringue provisório é armado. Daniel tinha motivos para ganhar aquela luta: parte do dinheiro que estava no carro junto com Camargo indo para um esconderijo bem perto dali. Toninho tira a camisa, Daniel faz o mesmo. Pessoas estão aguardando a briga começar. Dentro do Local se espalha a notícia que o filho de Maciel e um desafeto estão prestes a brigar. O alvoroço é enorme. Funcionários encarregados de recolherem as apostas não sabem o motivo de tantas pessoas estarem saindo do galpão. Todos querem ver a briga, era intervalo da segunda luta, várias mulheres nuas dançando no ringue não causavam nenhum interesse. Bastou alguns minutos para a luta de fora do Local tivesse um enorme público.
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Novas apostas começaram, nomes das cartelas foram retiradas. Incluíram ali Cavalo Dourado, já que Toninho tinha uma tatuagem de um ser mitológico nas costas, e Urso Branco; pela quantidade de pêlos espalhados pelo corpo e pela coloração de Daniel. Começam a briga, para euforia dos presentes, e desespero de Maciel; que sabia que Toninho iria apanhar mais uma vez de Daniel. Toninho de uma coragem extrema, desde que carregasse uma arma ou que estivesse ao lado de outros capangas. Dessa vez ele estava sozinho, morreria caso Maciel não achasse uma maneira de salvar o filho.
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Na estrada Camargo, Murilo, Daiane e Soraia fogem. As duas mulheres tentam contar o dinheiro, apesar do carro não parar de sacudir. Não conseguem, é muito dinheiro. Camargo grita mais uma vez pela portinhola que separava o motorista das meninas de dentro do baú de aço:
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“Tirem três mil. Coloquem numa sacola verde. Estamos chegando no local combinado”
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Soraia faz exatamente o que Camargo está pedindo. Numa sacola coloca o dinheiro. O carro continua andando, daqui poucos minutos estariam no lugar combinado entre Daniel e Luiza. O dinheiro da dívida estaria definitivamente paga. Soraia diz se Camargo não quer pagar o dinheiro que ele deve, Camargo sorri e diz que vai sumir, Henrique nunca mais vai recuperar os cinco mil emprestados. Chegam ao local, o dinheiro é colocado no meio do mato, continuam na estrada.
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Depois de duas horas Luiza e Henrique chegam no mesmo local onde Camargo deixou o dinheiro. Luiza chora de alegria, Henrique fica triste. Estava torcendo para ter um bom motivo de matar Daniel. Pegam o dinheiro e dormem num motel na beira da estrada.
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Lucas tem outro pesadelo. Dessa vez Amanda fica preocupada. Não é comum uma criança de apenas cinco anos sonhar com tantas coisas ruins. Era certo que de manhã, antes mesmo de levar Lucas para escola, ele seria benzido por dona Hermelita.
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(continua...)

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