terça-feira, 21 de agosto de 2007

Briga de Foice (FIM)

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Touro se prepara para a próxima luta. Um rapaz entra correndo no camarote onde ele estava descansando. Diz que a luta mudou de horário, ele não sabe dizer os motivos. Para Touro era melhor saber disso, tinha mais um tempo para se preparar para a Segunda luta da noite. No entanto, sabia que sua mãe continuava presa em algum lugar, vigiada por alguns homens de Toninho.
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Fora do galpão a luta começa. Maciel está sendo seguro por dois homens para que não interferissem na luta. Seus seguranças de confiança estavam todos mortos, executados por Alvarenga com um tiro na cabeça. “Não vou gastar muitas balas com esses merdas!”. Alvarenga sempre odiou aqueles caras, principalmente por acreditar que alguns deles mantinham relações com Maciel às escondidas.
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Daniel acerta um soco na boca de Toninho, um dente é arrancado com o impacto violento. A boca começa a sangrar. As apostas são encerradas, o dinheiro é recolhido para o carro-forte que estava estacionado ali perto, era impossível levar o dinheiro para alguma sala secreta de dentro do Local. Toninho se afasta, percebe que não tem a menor chance contra Daniel. Outro soco, dessa vez pega de raspão bem acima do ombro esquerdo. Toninho sente, menos de dois minutos de luta e Toninho estava acabado.
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Alvarenga vai para dentro do Local. Camilo está sozinho, olhando pela janela a briga do irmão. Camilo sente pelo pai, não queria que ele sofresse aquela humilhação. Alvarenga promete trazer Maciel para dentro do escritório, Camilo precisava conversar com ele. Maciel chega, visivelmente contrariado. Camilo senta-se no mesmo lugar de sempre, uma cadeira bem ao lado da poltrona de Maciel. Maciel se sente poderoso novamente.
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“Ele quis pegar seu dinheiro. Foi enganado pelos comparsas que fugiram” – Camilo começa a conversa com seu pai adotivo.
“Não acredito nisso”
“Pode olhar você mesmo. Limparam as salas da primeira aposta”
“Não acredito em você, está querendo me jogar contra seu irmão”
“Não é isso. Estou dizendo apenas o que está acontecendo.
“Malditos!”
“Seu filho está com as horas contadas. Quer ele vivo?”
“Não quero nada de você”
“Daniel é meu homem de segurança. Vai acabar com Toninho se eu não interferir”
“Não quero nada de você”
“Daniel foi contratado por mim para ficar de olho em Toninho, saber de tudo que ele estava planejando”
“É mentira”
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Camilo estava mentindo. Nunca tinha visto Daniel antes, apensar de estar presente quando foram contratados os seguranças. A referência de Camargo era o bastante para que Camilo contratasse Daniel. No entanto, com aquela conversa, queria mostrar seu poder. Algo que Toninho não tinha. Camilo vai para a janela, Maciel não quer pedir ajuda, a luta continua.
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“O quê você quer de mim?” – Maciel recua em sua prepotência.
“Casa, dinheiro, poder. Quero tomar conta de tudo”
“Você sempre tomou conta de tudo”
“Bastou Toninho se sentir deprimido novamente para que você o colocasse nessa cadeira”
“Ele é meu herdeiro natural”
“Foda-se a natureza! Sou seu filho também!”
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Maciel chora, pede que Camilo acabe com aquilo. A ordem segue até os ouvidos de Alvarenga. Toninho está no chão esperando o golpe fatal de Daniel. Alvarenga fala bem alto que a briga deve ser dentro do galpão, tudo que ocorresse fora do Local era profano. Daniel se levanta, era combinado que não mataria Toninho. Ele diz que não quer matar um homem indefeso, numa briga idiota; por motivos passionais. Gisele não entende, Daniel beija Gisele e a leva para um local ignorado.
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O público não entende o que está acontecendo, alguns se divertem com a maneira tosca que a briga tinha acabado. Outros mais felizes ainda, por terem apostado no Urso. As apostas são pagas aos vencedores.
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23
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Daniel entra no carro com Gisele. Abandona a garota num posto de gasolina depois de alguns quilômetros. Diz que Toninho não era um sujeito bom, que ela deveria voltar para casa e não contar nada para a família do que tinha vivido ultimamente. Ele segue para Campinas, onde encontraria o resto do bando para a divisão do dinheiro. Os outros membros conseguem separar os pacotes. Daniel chega. Diz que tem pressa, precisa encontrar Cecília nos próximos dias.
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Soraia se aproxima, ela sentiu a ausência de Daniel nos últimos dias. Disse que estava preocupada com o estado de saúde de Daniel, se ele conseguiria fugir. Ele troca de roupa. Camargo diz que o carro está limpo, que ele pode fugir com o dinheiro para onde quisesse. Se fosse pego não poderia contar nada do que tinha visto. Daniel é grato ao amigo, pega os pacotes e coloca no carro. Separa uma parte, pede que Soraia deposite o dinheiro na conta da mãe de Lucas. Eles se beijam. Daniel se despede dos outros comparsas. Foge em direção ao sul do país.
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Delegado Freitas decide invadir o lugar. A briga entre Daniel e Toninho tinha acabado. No entanto, Alvarenga já tinha tomado as providência para que nada acontecesse de errado. Há troca de tiros, os policias estão em menor número. Delegado Freitas é atingindo no braço, outro policial leva um tiro na perna. Ninguém morre. Cada vez mais estão sendo acuados, o socorro pedido não chega. Resolvem sair dali antes que todos fossem mortos. Freitas segue para o hospital, estava sangrando muito. Promete a si mesmo que voltará para prender os culpados.
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No Local tudo volta ao normal. Pessoas vão entrando calmamente, se acomodando para a Segunda luta da noite. Novas cartelas são distribuídas. Três horas da manhã, não haveria a terceira luta naquela noite. No escritório Toninho recebe os primeiros socorros, Camilo havia chamado o médico. Toninho estava com um olho ferido e muitos hematomas espalhados pelo corpo. Maciel fica sabendo do roubo, acredita que Toninho foi o grande culpado, considerando sua inexperiência ao tomar conta dos negócios. Maciel assume novamente os negócios.
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Touro sobe no ringue. Está visivelmente transtornado com a demora para a segunda luta. Vê sua mãe na arquibancada. Alvarenga tinha socorrido a mulher depois de saber o que Toninho havia preparado. Um sujeito entra no ringue, Elefante. Simplesmente Elefante. Começa a briga. Touro está feliz com a liberdade de sua mãe, nem percebe que está sendo sufocado até a morte. O amor, muitas vezes, é extremamente inútil em nossas vidas.
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Ainda estamos no inverno. Daniel está cansado com a viagem. Pretende parar mais uma vez para descansar. Não podia. Cecília deve estar esperando por ele. Faltam duas horas para chegar no hotel onde ela estava aguardando sua chegada. Tinha certeza que encontraria Cecília, que fugiriam dali com todo dinheiro para algum lugar perto da fronteira. Assim que pudessem, mudariam para o Uruguai.
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Cecília está dormindo quando Daniel chega. Estava algumas horas atrasado. Cecília esperaria mais alguns dias se fosse possível. Tinha certeza que não seria abandonada. Daniel também confiava que Cecília estaria hospedada no hotel. Ele chega. Duas palavras com a recepcionais, sobe as escadas. A porta do quarto estava aberta, ele entra. Daniel está com uma cara ruim, barba branca no rosto. Tinha sangue perto do pescoço, possivelmente da briga com Toninho. Estava exausto. Ele se deita, diz que tudo saiu de acordo. Cecília tira os sapatos de Daniel, ele se ajeita na cama. Dorme profundamente. Cecília prepara um banho, partirão no outro dia, bem cedo. Dormiram agarrados e bem cobertos. Estava muito frio aquela noite
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FIM
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